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Este Blog é um espaço onde coloco as minhas opiniões e aquilo em que acredito. Espero ver o vosso feedback ao que escrevo e sugestões sobre assuntos que mereçam que se gaste tempo com eles.

sábado, 14 de julho de 2012

Mentecaptos?

     "Se eu depositar 10 mil euros, tenho 2% ao ano. Quem depositar 100 mil euros, ganha 8% ao ano. Grande negócio para quem tem dinheiro! A Alemanha financia-se a juros de 1%. Portugal teria de pagar 10% o que é impossível. Solução: a Alemanha pode usar os seus empréstimos para emprestar aos países em dificuldades com juros de 5%. Ganha 5 vezes com a operação. Grande negócio!
     É este o sistema que nos governa desde o inicio do século, e em que a Europa se enredou. É a economia baseada nos juros das dívidas, nos spreads, no risco, nos ratings e outros eufemismos da usura. E com isto se gerou um retrocesso civilizacional. Será que não se vê?
     Admito que os políticos não o vejam. Habituados a servir clientelas e traficar influências ou poder dentro dos partidos, com uns discursos pelo meio, não têm tempo para estudar nem pensar, razão pela qual lhes oferecem uns cursos. Como são ignorantes, contratam para o Governo uns indivíduos que, lá por fazerem contas, se apresentam como técnicos e cientistas. Na verdade, apenas sabem conta o dinheiro e ganhar com os juros("fazem boa colocação das poupanças, como dizem").
     Foi o Governo desses economistas que criou um sistema em que o dinheiro-mas não o trabalho-cria riqueza. Só um mentecapto é que não vê que este sistema é iníquo e condenado ao fracasso. Mas não excluo a possibilidade de que os economistas que nos governam sejam mentecaptos. Quanto aos políticos, coitados, deviam usar óculos para ver ao longe."

   Jornal DESTAK de 13 Julho 2012, coluna ESTRANHO QUOTIDIANO, escrito por J. L. Pio Abreu, psiquiatra e professor universitário.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Desacordo ortográfico


   Vem com a mãe e senta-se do outro lado, no metro. Tem oito, nove, dez anos talvez. Não sei precisar. Tira da mochila o livro de aventuras e ocupa-se a ler. Ávido, uma página, outra e outra. Por detrás dos óculos de massa azul de fundo de garrafa. Entretanto, pousa a história nas pernas, e com ar de caso, pergunta: “Porque é que o pai é Víctor com cê e o menino da história é Vítor sem cê?” A mãe diz-lhe que há palavras que hoje se escrevem de forma diferente e que há letras que já não fazem falta. Mas o rapaz não fica satisfeito com a resposta e insiste nos porquês. Passados dois ou três, a mãe remata impaciente: “Ó filho, não sei. A culpa é dos senhores do Governo. Eles é que decidiram assim.” Os senhores do Governo são de facto os responsáveis pela entrada em vigor do acordo ortográfico. Mas tanto quanto sei, e sei ainda pouco sobre o assunto, os nomes próprios não foram afectados. Continua a escrever-se Víctor das duas maneiras.
   Seja como for, o acordo -ou desacordo- é daquelas coisas que me fazem comichão. E já vão alguns anos. Não me considero casca grossa. Sou a favor da evolução da Língua mas a ligeireza da coisa irrita-me. Isto de se deixar cair consoantes mudas, hífenes e maiúsculas é uma batalha transversal. Atenta contra a minha geração, as que se seguem e, sobretudo as que estão para trás. É, no mínimo, uma falta de respeito por todos os docentes do ensino primário e preparatório. De nada serviu o esforço das minhas professoras Alzira e Deodata a lembrar-me o pê do óptimo, o tracinho da infra-estrutura ou a maiúscula da Primavera. Tanto trabalho e dedicação para depois nos virem dizer (e escrever) que não é correcto. E sem cê.
   Chamem-me cota, mas eu sou do tempo em que fato era apenas o conjunto de calças e casaco e não um acontecimento. Chamem-me insolente mas, enquanto puder, vou resistir à conversão ortográfica.

     Apesar deste cometário não ser da minha autoria, sou dos que sente esta situação na pele de forma bastante forte. Tenho duas filhas na escola e quando tenho que corrigir algum trabalho delas, fico sem saber se existe o erro ou se é resultado do novo acordo ortográfico.

     Copiado do jornal diário Destak de 2 de Julho de 2012, coluna Crónica do Metropolitano de Graça Andrade.